quinta-feira, 13 de junho de 2013

Grevistas do Detran organizam Arraiá da Resistência

Data: 13 junho 2013 - Hora: 17:38 - Por: Portal JH
Para 'comemorar' um mês de paralisação, servidores cantam, dançam e protestam contra a falta de diálogo. Foto: Heracles Dantas
Para ‘comemorar’ um mês de paralisação, servidores cantam, dançam e protestam contra a falta de diálogo. Foto: Heracles Dantas
“A fogueira está queimando em homenagem ao Detran”. A brincadeira com a letra do tema junino composto por Luiz Gonzaga caberia como trilha do Arraiá da Resistência, ato organizado pelo comando de greve da autarquia, na manhã desta quinta-feira (13), como forma de registrar um mês de paralisação de parte dos funcionários. Desde o dia 13 de maio, cerca de 283 concursados reivindicam o cumprimento do salário divulgado no edital de 2010, criação do plano de cargos e salários, bem como o fornecimento de plano de saúde, vale transporte e melhorias na infraestrutura do órgão. Um lanche coletivo foi acompanhado por um trio de músicos que faziam trocadilhos com clássicos do forró, adaptados para o tom crítico da ação.
“Essa reunião marca esse ato de resistência com uma confraternização entre novos e antigos funcionários, todos insatisfeitos com a forma como estamos sendo tratados e a falta de vontade do Governo em resolver a situação. Já procuramos a OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], o Ministério Público, a classe política e a sociedade civil, que sempre nos apoiou. Agora esperamos bom senso, mesmo sofrendo ameaças com corte de ponto, exoneração e violência da polícia”, disse a assistente administrativa Márcia Ferreira. Ela garante que vários funcionários têm recebido R$ 22 de vale-transporte, “enquanto os antigos chegam a receber R$ 174″.
O comando de greve alega que duas reuniões foram canceladas pelo Governo sem maiores explicações, ao mesmo tempo em que a direção do Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Norte afirma desconhecer o agendamento de tais encontros. Imbróglio estabelecido, Márcia chama a atenção para notícias veiculadas na imprensa sobre percentuais de serviços ativos. “A direção é irresponsável quando diz que serviços estão funcionando normalmente. Isso faz com que a população venha aqui e dê viagem perdida. Sabemos que qualquer greve prejudica principalmente a população, que é ela que arca com os prejuízos. Mas estamos firmes em nosso propósito”.
Acusações de que o Detran teria perdido o status de autarquia e apontamentos sobre a baixa qualidade dos serviços prestados são feitas por Márcia, uma das coordenadoras da greve. “Não existe mais autonomia financeira e administrativa. Tudo é decidido pelo Governo do Estado. Por isso vemos a precariedade em todo canto. Falta material de expediente e de limpeza. Vá em algum banheiro e veja se tem papel higiênico e sabonete”. Foi o que fez a reportagem. Posicionado em um corredor do setor de Informações e Habilitação, o banheiro para o público beira a insalubridade. Com forte odor de dejetos humanos, o espaço apresenta pias quebradas e paredes descascadas. Os dois itens citados pela manifestante estão ausentes. Ao procurá-los com funcionários, sorrisos e palavras irônicas. “Fale com a direção”.
Enquanto isso, o despachante Fábio da Silveira Melo reclamava da perda de até 95% em seu faturamento. “Não tem como piorar mais, nem para onde correr. Só com a cara e a coragem para vir aqui e tentar resolver alguma coisa”. O mesmo lamento foi dito pelo motorista Francisco de Assis Cardoso, chateado com a demora no atendimento na Coordenadoria de Registro para receber um recibo extraviado. “Eu, como consumidor, não posso fazer nada. Tenho que ser atendido como e quando eles quiserem”. Em meio a goteiras que vazavam de uma lâmpada fluorescente fixada em teto descascado, ele reservou a manhã inteira para concluir um processo que “deveria ser feito em minutos”.
Como um dos articuladores da direção do Detran, o chefe de gabinete Manuel Ferreira contesta uma série de colocações dos grevistas. Sobre a reivindicação do plano de cargos e salários, tudo estaria acertado entre secretários estaduais envolvidos na operação, mas que a própria Governadora Rosalba Ciarlini pegou a decisão para si. “Fizemos uma reunião com os concursados no dia 10 de maio, portanto três dias antes do começo da greve. Na ocasião, pedimos cinco dias para apresentarmos a definição da governadora, que tinha tudo para ser positiva, mesmo com o Estado estando no limite prudencial. Isso foi à tarde, quando eles disseram que atenderiam esse nosso pedido quanto ao prazo. À noite, me liga um repórter dizendo que a greve estava deflagrada, me pedindo uma posição oficial”.
Em relação ao plano de saúde, Manuel garante que nem o diretor-presidente, Willy Saldanha, tem. “Quando eles entraram aqui, existia um contrato em vigor que determinava um número limite de beneficiários que não contemplava os novos concursados. Não tínhamos como prever isso, porque eles entraram em 2012 por uma decisão judicial que passou por cima do limite prudencial. Eles sabem disso, mas adotaram uma postura agressiva. Agora o impasse está estabelecido e o Governo não quer negociar. Sei que muitos funcionários estão trabalhando e não concordam com a condução da greve”.
Para ratificar suas assertivas, o chefe de gabinete apresentou à reportagem planilhas com índices de atendimento em cada setor do Detran. Da habilitação ao licenciamento, o último mês consta com uma média de 75%, 80% de serviços completos. “Todos os serviços estão normais, diz Manuel, ainda que usuários reclamem da falta de funcionários para emitir documentos no setor de vistoria. Quanto aos banheiros, uma empresa terceirizada presta o serviço de limpeza e é fiscalizada por um servidor concursado. “Vou procurar saber o que está acontecendo”.

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