quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Veículos demais, habilitações de menos

Veículos demais, habilitações de menos

RIO GRANDE DO NORTE POSSUI 316,8 MIL VEÍCULOS A MAIS NAS RUAS QUE O TOTAL DE CARTEIRAS DE HABILITAÇÃO EMITIDAS PELO DETRAN

07:30 18 de Dezembro de 2013
 
Jalmir Oliveira
DO NOVO JORNAL
O agricultor Alexandre Ferreira de Assis, 25, ainda se recupera de um acidente. Há três dias ele caiu da moto em Tangará, na região Agreste. Lembra apenas que ia fazer uma manobra quando tombou e desmaiou. Ao despertar, já estava numa das enfermarias do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em Natal, com o fêmur direito fraturado. Assis comprou sua moto há três anos, mas até hoje não tem registro de condutor. A situação do agricultor é mais comum do que se imagina. O Rio Grande do Norte possui hoje mais veículos nas ruas que carteiras de habilitação.

Foto: Ney Douglas/NJ.
Ney Douglas/NJ
Há no Rio Grande do Norte 961.580 mil veículos em circulação enquanto o Detran contabiliza 644.722 habilitações
Segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), com abrangência até esta semana, há 961.580 mil veículos em circulação no Rio Grande do Norte, enquanto o órgão contabiliza 644.722 permissões de trânsito. A discrepância é ainda maior no tocante às motocicletas. Segundo o Detran, há 385.635 veículos de duas rodas (motos e motonetas) contra 267.107 habilitações.

De acordo com um estudo feito pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), esta mesma situação também acontece em Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba e Piauí. A estimativa é de que em todo o Brasil a frota de motos tenha aumentado 123% nos últimos dois anos.

A moto adquirida por Alexandre Ferreira de Assis foi uma de 100 cilindradas. Ele dividiu em 48 vezes o custo do veículo, que ficou em torno de R$ 4,3 mil. “Antes, eu andava a pé. A moto me ajudou muito, mas não quero mais. Fiquei traumatizado”, conta.

Ele revela que não tirou a carteira de habilitação por causa do custo que considera alto. Somente com as taxas administrativas no Detran são R$ 210. Já o curso de direção não fica por menos de R$ 800. “Eu não tenho esse dinheiro. Decidi arriscar, mas acabei com prejuízo”, lamenta. O jovem terá de passar nove meses de fisioterapia para recuperar o movimento das pernas.

O mesmo drama é partilhado pelo vizinho de leito hospitalar. O operador de máquinas Ericles Azevedo de Souza, 19, está internado há dois dias. Ele também quebrou o fêmur direito. “Eu estava tranquilo, seguro, quando um carro me fechou. Perdi o controle e caí. Só que ele tinha carteira e eu não. A culpa do acidente acabou sendo minha”, lembra.

O jovem terá de passar cinco meses de fisioterapia, mas já prometeu a si mesmo nunca mais subir numa moto. “Quero distância. Poderia ter morrido. Vou tentar fazer uma autoescola e comprar um carro”, diz.

O aumento da frota, de acordo com o Detran, é fruto de uma política de financiamento e redução de tributos, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). “É muito fácil comprar uma moto. Basta comprovar a renda que o negócio é fechado. Tem consórcio parcelando em mais de 80 vezes”, comenta o coordenador de Registro de Veículos do Detran, Marcelo Galvão.

Ele explica que a comparação entre registros e veículos não implica dizer que a diferença seja apenas de condutores sem habilitação. “Temos ainda pessoas com mais de um veículo em casa ou que são registrados em outros departamentos estaduais de trânsito”, explicou.

No entanto, ele se mostra surpreso com o aumento de motos registradas nos últimos anos. Somente este ano 27.921 mil motos foram emplacadas, uma média de 82 motos por dia.

Uma destas motos é da vendedora Marta Wilma da Silva, 27, que comprou há três meses uma motoneta de 50 cilindradas, a famosa cinquentinha. Ela se arriscou algumas vezes no trânsito, mas decidiu investir no curso de direção. “Eu senti que precisava aprender a me comportar melhor nas ruas”, afirma.

Ela fez ontem o exame prático de direção – a última etapa antes de obter a carteira de habilitação. Apesar do nervosismo, cumpriu com segurança todo o percurso de testes. “A moto representa a minha liberdade. Meu trabalho vai render muito mais agora. Antes, eu dependia do transporte público para me locomover e sempre perdia compromissos”, detalha.

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